Thursday 13 March 2008

E se...?

Pela primeira vez na minha vida estou a pensar no impacto social da exposição da minha orientação sexual...
Já tinha dado aulas antes mas nunca para quase 200 pessoas ao mesmo tempo!
Ao contrário do que acontecia até aqui, neste momento posso passar por um aluno(a) na rua e não o reconhecer...

E se... encontro um aluno no Trumps ou outro local similar?
E se... um perfil meu num qualquer site algures na internet for encontrado por um aluno?
E se... eu perder a privacidade de um dia para o outro por causa disso?

E se... bah! E se eu cagasse para isso tudo?!
Vou mas é viver a minha vida sem pensar nisso!

P.s.- Sim. Sou um professor "alegre" (=gay)! ;-)

13 comments:

AstroBoy™ said...

Geez! E se?
E se nao houvesse se's?
A vida nao tinha piadinha nenhuma...

deonplayground said...

Hélas! (,")

deonplayground said...

Ah! outra coisa...
Vejam bem este atraso de vida: Aqui! "One of the most dangerous ways homosexuality invades family life is through popular music. Parents should keep careful watch over their children's listening habits(...)"

Anonymous said...

Finalmente um post que me preza ler (e responder)!
A pergunta que todos nós já nos perguntámos e continuamos a perguntar...
Duas respostas: se um aluno souber que és gay porque estavas no Trumps ou BearWWW, o mais provável é que esse aluno também seja gay... ou bi (dedução lógica...acho)
Logo tu és um gay teacher e ele é um gay student... big deal!
"O mal é se ele usar essa informação de forma malévola..."
poderá ser o pensamento, mas aí entra a segunda resposta:

Sim, és gay... e depois? Faltaste ao respeito a alguém, só por seres gay? Acho que não...
Vais para a cama com homens, com o consentimento mútuo? As mulheres fazem o mesmo e não são recriminadas... ;)

A questão poderia fiar mais fino se te relacionasses com um aluno... mas aí a orientação sexual é irrelevante.

Em resumo, vivemos fechados num fechado com medo de nós próprios e de algo que não fizemos...
Como há quem queira manter-se assim, azar para quem continuar assim.


Eu não acredito no GAY PRIDE mas sim no GAY RESPECT.

PS: sim, mantenho o anonimato porque a minha identidade é irrelevante para a transmissão de ideias.

Édipo said...

astroboy: Sim. Se tudo fosse fácil na vida, ela até não tinha piada nenhuma... ;-) Um abraço!

deon: Obrigado pela citação que aqui trouxesseste. Como sabes isso não é novo. Haverá sempre alguém que acha que a música distorce o pensamento da juventude. Basta lembrar quantas vezes o Marylin Manson é acusado de promover o suicídio e a violência na sua música. Mas uma coisa é verdade... de cada vez que ouço Scissor Sisters, sinto-me sempre mais bicha! hehehe Um abraço!

anónimo: Obrigado por teres comentado e fico contente de te ter "excitado" o pensamento a esse nível. :-)
Sinceramente, tento não pensar na exposição da minha privacidade por alguém "malévolo" mas não deixa de ser uma questão que me coloco, da mesma forma que colocaria se fosse um toxicodependente em recuperação ou um seropositivo. Estamos a falar de invasão de privacidade e isso pode acontecer em relação a várias coisas. Neste momento, a invasão de que falei foi a que me veio ao pensamento mas sinceramente, foi por pouco tempo. Ainda ontem saí à noite em sítios gay e nem por 1 segundo me lembrei disso. Mas levantei esta questão porque nem todo a gente lida bem como isso, como sabes, e era uma forma de discutir isto no blog. ;-)
Quanto ao "azar para quem continuar assim" bom... voltando a repetir, eu estou relativamente bem "resolvido" na minha cabeça ma snem toda a gente o está. Há inclusivamente pessoas que têm um problema psicológico associado a isto (um terror/paranóia de ser descoberto, uma auto-imagem irreal em que se considera ser hetero, quando toda a gente sabe que ele é gay, etc). Já para não falar que nem toda a gente tem (verdadeiros) amigos e família que suportem a pessoa que se assume.
Mais ainda... é um mau princípio dizer "azar para quem continuar assim" porque nós que estamos fora do armário ou pelo menos com a "porta aberta", devemos ajudar essas pessoas a assumirem-se partilhando um pouco da nossa experiência.
Para terminar, deixa-me dizer-te que sou assumido para os amigos que interessam (os tais verdadeiros), para algumas pessoas da família e alguns colegas de trabalho. Até porque acima de tudo sou honesto e seria incapaz de mentir às pessoas de quem gosto.
Quanto ao teu comentário em geral... excelente! Obrigado por teres comentado e por teres transmitido as tuas ideias!
Um abraço de respeito! ;-)

Anonymous said...

Édipo: eu comentei porque é algo do qual posso falar por experiência pessoal e também por já ter pensado sobre o assunto. A invasão de privacidade de que falas, eu considero-a apenas a exposição de uma característica tua: ser gay, da mesma maneira que tu te expões quando pegas numa caneta e escreves qualquer coisa... Estás a pensar: "o gayjo tá doido!", mas em tempos idos, escrever com a mão esquerda não era bom sinal...
Do meu ponto de vista, a invasão de privacidade seria saberem como aplicas essa característica (i.e. ser gay)... isso é que é MUITO pessoal e cada um fala/mostra aquilo que quer.

Não andando eu de plumas mas já tendo frequentado sítios gay, nunca me preocupei em que me reconhecessem, porque aquele que pára à porta do Maria Caxuxa ou está no Frágil, Bric ou Trumps de certeza que não é 100% hetero... ou seja temos todos a mesma orientação sexual... se os outros ficam a saber que eu sou, eu também fico a saber que são.
Repara bem num ponto de vista: se os outros invadem a tua privacidade, tu também invades a deles... empate técnico! :)

E isso já aconteceu comigo: eu já vi gajos que trabalham/almoçam perto de mim em locais gay... o que acontece depois é que uns acagassam-se, outros cumprimentam (um pouco com cumplicidade) no dia-a-dia.

Mais: eu sempre fiz questão que vissem... por vários motivos: é uma questão de marcar o terreno e de afirmação.... sobretudo para ajudar-me a quebrar a jaula que a sociedade me meteu e na qual eu permaneço.... por medo/receio/parvoíce (escolhe outros substantivos).
Por muito que não queiramos, NÓS é que somos os carcereiros de nós próprios:
Se um casal hetero pode andar de mão dada na rua, porque é que eu não posso? Fiz mal a alguém?

"nem todo a gente lida bem como isso"
Palavras sábias... é mau construir uma vida artificial... isso não é viver...
Se há uns anos, alguém descobrisse que eu era gay isso seria o fim do mundo para mim, porque pensava que ficaria sozinho, agora penso de forma diferente: entre fingir e viver na solidão, fechado na dita jaula ou viver sozinho porque sabem que sou gay, eu prefiro a última pois pelo menos estou a ser eu próprio.
Se antes tinha medo dos outros saberem, agora faz-me confusão como é que se consegue viver mentindo a nós próprios...

Quanto à questão de sair do armário, todos têm o seu tempo e não há volta a dar: só quando eles sentirem que é o momento deles, é que vão sair. Comigo aconteceu isso... tarde, mas ainda a tempo. :)
E não tenho problema de falar disso e de mais um par de botas por é uma questão de desmitificar tudo, inclusivamente de gozar comigo mesmo, pois isso fortalece-me em vez de me deixar exposto: NÃO HÁ NADA DE MAL EM SER-SE GAY!

Eu sou do mesmo "género" de assumido: apenas para aqueles que me dizem algo e com os quais eu quero ser uma pessoa verdadeira. E da mesma maneira que nem todos sabem qual é o meu clube (não tenho...), nem todos sabem quem é que me apetece beijar.

A minha frase "Em resumo, vivemos fechados num fechado com medo de nós próprios e de algo que não fizemos...
Como há quem queira manter-se assim, azar para quem continuar assim." aplica-se aos que ainda não sairam, mas também aos que já sairam... Confuso? Não... eu tento explicar...
Apercebi-me recentemente que a homossexualidade é MESMO APENAS uma característica que compõem um ser humano (nem perdi tempo com os restantes animais...) Ingenuamente pensava que os gays teriam uma maior capacidade para a tolerância e respeito mútuo, mas enganei-me. Daí afirmar que mesmo saído do armário, há ainda muito gay que precisa de sair duma mentalidade redutora.

Nós gays, andamos enganados... já faz a hora de marcarmos a nossa posição... mas como disse atrás, todo o momento tem o seu tempo.

PS: Quanto ao teu comentário sobre o meu comentário, obrigado eu... por ver que é um blog gay hetero...géneo! ;)

Édipo said...

Caro "(por enquanto ainda) anónimo" e futuro "ex-anónimo"... ;-)

Seria um empate "técnico" se as condições fossem as mesmas. Mas uma das privacidades é menos "privada" que a outra. Se um apresentador de TV for visto no T, no outro dia pode sair na revista. O ilustre cidadão desconhecido não terá esse problema. É nesse aspecto que falo de privacidade.
Quanto a "NÓS é que somos os carcereiros de nós próprios" concordo totalmente... sinto isso no dia a dia e é algo que tento combater constantemente. Mas é algo que surge de uma evolução natural e acredita que já dei beijos na rua. simplesmente há sitios onde me sinto mais a vontade e outros menos. nao é a sociedade que me pressiona. sou eu proprio, porque tenho a "sociedade na cabeça".
Quanto à (in)tolerância dos gays... pois, os gays também são seres humanos e os seres humanos usam muito os estereótipos e ideias pre-concebidas acerca dos outros. E muitas vezes certas atitudes e opiniões são inevitavelmente extremadas.
Quanto ao blog, sim de facto é um "um blog gay hetero...géneo!" porque são diferentes pessoas com diferentes perspectivas a publicar posts. Uns mais fortes na linguagem, uns mais fracos, uns mais a brincar, outros mais sérios, etc etc. e isso considero ser o ponto forte deste. Imagina este blog como uma espécie de Sexo e a Cidade à portugesa mas na sua versão gay. ;-) Há para todos os gostos. hehehe
um abraço e mais uma vez obrigado pela participação!

Anonymous said...

Caro Édipo,

À primeira vista concordaria contigo; mas analisando melhor, não concordo. :)
Um ponto prévio: "Se um apresentador de TV for visto no T, no outro dia pode sair na revista."
Esta ideia é aquela que eu chamo de malévola; ou seja estás a dar-me razão agora, quando antes escreveste que este não era o caso de perder a privacidade.

Mas ir ao T não exclusivo de gays... ;) dizem eles...


Inicialmente ia dar aqui exemplo de homens cuja orientação sexual é heterossexual até prova irrefutável em contrário, mas poderia pôr-me em trabalhos do foro legal e se eles já fazem suquetes com registos tão transparentemente gay ou crónicas em que usam t-shirts da Abercrombie & Fitch... acho que é escusado dar nomes aos "boys".
Mas se fosse buscar o exemplo dum heterossexual casado? Aí talvez as coisas não fossem o mesmo... porque o que interessa aí é o contrato social entre o homem e a mulher (i.e. o casamento) que é posto em causa.


A conversa do ilustre cidadão desconhecido faz sempre lembrar-me as conversas que tive com gays da província que vieram para Lisboa, pois aí podiam passar por desconhecidos.
Que doce engano... nem se apercebiam que é uma questão de grandeza... relativa...
O que eles diziam de lisboa, dizem os lisboetas de NY ou Londres...
E o pior é que pensam que eles são os únicos a pensar assim... e ficam loucas e à solta na nova cidade, desatentas com a falsa segurança da multidão que as rodeia... quando são reconhecidas na mesma... por alguém que as conheça e passe pelo mesmo sítio e pelo mesmo local onde ela se revela...

Pode parecer que te estou a dar razão, com o que escrevo, pois há mais pessoas a conhecerem um apresentador de TV a pavonear-se em Sitges do que o Zé das Berças... mas que eu saiba, não acontece um mal pior ao apresentador do que ao provinciano... de certeza que na Islândia, as coisas continuariam na mesma...

Continuo na mesma: fugimos de nós próprios!

E daí pessoas famosas como o George Michael terem caído "facilmente" na armadilha e depois sentirem-se bem porque estavam fartas de se esconder.


E ainda bem que já deste beijos na rua! Os outros também os dão...
Partilho contigo a mesma opinião sobre o que escreveste e procuro fazer o mesmo.

É só uma opinião...

Depois respondo à parte do "blog gay hetero...géneo!" no outro post, pois este já está a chegar ao nono comentário...

Abraços,
Futuro "ex-anónimo"

PS: por muito que me contenha, continuo a escrever muito...

Édipo said...

hehehe Podes continuar a escrever muito que nós não nos importamos.

Eu acho que no fundo até concordamos na maioria das coisas mas um debate deste género é sempre saudável. Até porque pode por quem nos lê a pensar... ;-)

um abraço!

enGine throbs said...

Acabei de ler o artiga de capa da Única, a revista do Expresso.
GRANDE SOLGANGE F.!!!

As outras mulheres também são, mas Solange é que é a "figura pública"...
Não só desceu um milímetro na minha consideração, que já era alta, como subiu ainda mais!

Consideração... e RESPEITO! ;)

Édipo, como vês... não é difícil, pois não? ;)

Édipo said...

É óbvio que admiro o que ela fez mas não podemos esquecer que a sociedade aceita mais facilmente mulheres gay do que homens.
Mas o que ela fez só mostra uma coisa... tudo depende de nós para deixarmos de ser "carcereiros de nós próprios". ;-)
abraço!

Unknown said...

"...a sociedade aceita mais facilmente mulheres gay do que homens."

Ou seja, os homens é que são o sexo fraco...?

Acredito que sim...
Hoje não estou muito de escrever, nem muito de espírito positivo...
Utopias, ideiais, etc... todos em 'hold' por hoje....

Hoje é para ouvir "Discoteca" dos pet shop boys:

Hay una discoteca por acqui?

I don't speak the language
I can't understand the word
Where angels fear to tread
I've sometimes walked and tried to talk
but how can I be heard
in such a world
when I'm lost?
I'm doing what I do
to see me through
I'm going out
and carrying on as normal

Hay una discoteca por acqui?

Te quiero
Entiende usted?
Digame
Cuanto tiempo tengo que esperar?

I don't speak in anger
though the chances that I've let
pass me by
and now regret I can't forget
They're haunting me
like a score of unpaid debts
Is it enough
to live in hope
that one day we'll be free
without this fear?
I'm going out
and carrying on as normal

Hay una discoteca por acqui?

Te quiero
Entiende usted?
Digame
Cuanto tiempo tengo que esperar?

Felisberto said...

Acabei de descobrir este blog, através dum outro..e assim se descobrem os blogs...já tenho visto alguns blogs gay...e nenhum minimamente interessante...pela primeira vez sinto-me tentado a dar a minha singela opinião...ainda sobre grande primeiro tópico que me chamou a atenção...

sou estudante de direito, parcialmente assumido, penso e pelo que li, tenho uma visão muito parecida com o Édipo...quem me é importante sabe...e estou bem assim...da mesma forma que ñ digo mal conheço alguém que sou inteligente ou que tenho um sinal no ombro esquerdo, tb ñ digo que sou gay...enfim, ordem naturológica das coisas...
mas compreendo perfeitamente o sentido deste post em especial...infelizmente estamos numa sociedade em que não nos podemos dar a luxo às vezes de sermos nós próprios pois podemos condenar-nos a uma vida de fome peste e guerra. Como é que eu, um estudante de direito, posso largar a minha sexualidade no mundo quando estou numa área em que simplesmente reina e predomina a virilidade...onde até as mulheres são viris...vejo cada vez mais a minha área com homens e mulheres como eu...mas ainda ñ é o suficiente para estar "á vontade"...
O anónimo tem razão, quando diz que a sexualidade é tão somente uma caracteristica...cheguei a essa conclusão há cerca de três anos...tenho actualmente vinte e um, e aos dezoito saí do armário (odeio esta expressão) começando pelos meus pais e depois os amigos que realmente são amigos...nesse aspecto nunca tive problemas....tal como o anónimo sou o primeiro a brincar com situações mais radicais de pessoas que levam a sua sexualidade muito a sério (eufemismo. Mas acima de tudo, o contributo que eu gostaria de deixar para este post é que, na minha opinião, devemos ser nós...sem nunca esquecer que há outros que não nos v~em com bons olhos...pelo nosso próprio bem...há que ser e provar que somos muitissimo dignos de respeito (talvez começando muitas vezes a darmo-nos ao respeito), mas terá que ser com calma e paciência. Sem medos...o mund será dos audazes:-)

parabéns pelo blog!