Thursday 11 December 2008

Como sair do armário?

Agora mais do que nunca estou em permanente luta comigo mesmo para me obrigar a sair do armário.
Já tenho a perna esquerda, ambos os braços e a cabeça cá fora. Mas falta o resto... passo a explicar:

Segundo o "Resource Guide to Coming Out" (guia de recursos para "sair do armário") editado pela Human Rights Campaign (ficheiro aqui), existem 3 fases "crescentes" para se sair do armário:

Fase 1 - Sermos honestos connosco próprios - É importante nesta fase que percebamos que ser gay, lésbica, transexual ou bissexual não é uma escolha, nem um estilo de vida. Somos assim, nascemos assim e não há forma cientificamente provada de o mudar. Se mudamos, é por pura repressão daquilo que somos. Não porque nos curámos de uma doença!

Fase 2 - Sair do armário - Quando somos honestos com os outros que nos rodeiam. Falamos abertamente daquilo que somos e queremos, com os amigos, colegas de trabalho ou de estudos, família... Esta é talvez a fase mais complicada, pois podemos sair do armário em algumas das dimensões da nossa vida mas não em outras. Podemos ser abertos com os nossos amigos mas ter um medo terrível de o fazer com os nossos pais. Ou nem sequer ter amigos heterosexuais, para evitar constrangimentos. No entanto, é importante perceber que sem terminar esta fase em todas estas dimensões, dificilmente se passará à fase seguinte.

Fase 3 - Viver abertamente - Quando falamos abertamente sobre estes assuntos não só com as pessoas mais próximas mas também com pessoas desconhecidas ou novas pessoas que entrem na nossa vida.

Neste momento, posso partilhar que me encontro na fase 2. Aberto para os amigos (os que interessam, heteros e não heteros), aberto para alguns colegas de trabalho mas, infelizmente, "meio-aberto" para a família.
É esse o meu dilema agora. O meu irmão sabe, a minha mãe sabe (de burra não tem nada!) mas prefere ter a ilusão que talvez seja impressão dela e que um dia me vou casar com uma mulher (é o mal de não tornarmos as coisas claras...) e o meu pai... bom... pai português! Macho latino. Já se sabe né? O que diriam os amigos da tropa...

Pois agora ando à procura do melhor meio de tornar explícito e claro para a minha mãe e contar ao meu pai que há 8 meses estou a viver com um homem que eles ainda não conhecem...
Dizem-me que é melhor não o fazer no Natal. Mas está difícil continuar assim. Não lhes minto. Apenas omito. Mas isso está a tornar-se tão mau como uma mentira.
Fase 3... here I go!

E vocês? Em que nível se encontram? Partilhem!!!

20 comments:

Felisberto said...

Sei que sou gay desde os meus 13 anos, entrei na fase 1 aos dezasseis, em que assumi para mim mesmo; aos 17 comecei a entrar na segunda fase e aos dezoito anos entrei plenamente na segunda,aos dezoito anos entrei em pleno na dois, os meus pais souberam, e não souberam por vontade minha mas porque fiz asneirada e fui pego em flagrante...enfim. Foram uns meses bastante dificeis, especialmente a primeira noite. Mas no final acabou tudo bem e agora embora seja assunto que não se fale, ao menos eles sabem e já não minto. Que era o que mais me custava. Actualmente estou na terceira...já estou desde há um bom tempo...e pronto...simples. Dizem que sou muito bem resolvido comigo mesmo, mas o que eu fiz foi resolver-me com a vida, que seria de inferno caso não caminhasse em frente.
Por isso meu caro, muita força e prepara-te pk vai ser muito duro.Mas, no que me disser respeito...conta comigo no que te puder ajudar.
abraço

AstroBoy™ said...

Tenho 29 e sai do armário há 11 anos. (group therapy anyone? :P)
Passei as três fases descritas no espaço de um ano.

Gosto de pensar no sair do armário como uma fase só. Mas percebo que seja fácil fazer "flow charts" em que se segue de um ponto para outro e organigramas de como se fazer as coisas de uma forma saudável, mas o meu foi bastante natural.
Naturalmente dificil, mas natural.

A minha namorada na altura foi a primeira a saber... Eramos acima de tudo amigos e isso não se perdeu. Ainda hoje o somos... Daí para o resto dos amigos foi um istante.

Depois soube a minha familia de casa: resolvi morar sozinho quando fiz 18, aluguei a casa ao lado da minha avó. Numa daquelas conversas de jantar em que foi dito, agora tens de convidar a V (namorada acima mencionada) para morar contigo... Eu respondi directo: “Já não namoramos... Descobri que gosto de rapazes e não de miudas... Mas ela está bem. Agora somos amigos!”
Falamos mais sobre o assunto (sem entrar em detalhes porque seriam desnecessários), apanhamos os talheres do chão e a coisa morreu ali.

A mãe não aceita e não fala no assunto (acho que se culpa um bocadinho, se calhar levar-me ao Alcantra Mar na noite em que fiz 14 anos não foi assim tão boa ideia...)

A tia achou o máximo! Só ficou preocupadissima com o meu futuro profissional e chegou a sugerir que estaria agora restrito a: designer de roupa ou cabeleireiro (depois de uma reacção de gargalhadas reboladas no chão da sala ela percebeu que talvez não...)

A avó não está nem aí... (“Só quero é que sejas feliz meu filho. E não deixes que ninguém te faça mal”) Quando o meu primeiro namorado dormia em minha casa ela acordáva-nos com o pequeno almoço na cama...

De vez em quando ainda vem uma ou outra questão sobre ex namorados, do género: "então o que é feito do X"...
Um sorriso ironico é resposta suficiente e o olhar de volta pode significar qualquer coisa como “Ok... Mas o outro está bem. Agora são amigos!”

No trabalho nunca tive problema absolutamente nenhum. A maior parte são pessoas que não fazem parte da minha vida pessoal e portanto não perco tempo a esclarecer ninguém, mas nunca hesitei quando se punham com merdas do género “aquela gaja é tão boa” em responder: “não se sabe maquilhar, está gorda e o irmão dela é bem mais giro que ela...”
É remedio santo, não se volta a falar de gajas comigo... Nem de futebol...

Querido Edipo, não há formulas para se fazerem as coisas, nem momentos certos, nem reacções padrão.

Há apenas dois conselhos que te posso dar:
1. Sê quem tu és com quem mais amas, e não esperes reacções. Deixa-te ser surpreendido.
2. E mais importante, não tomes responsabilidade pelas dores das pessoas que te rodeiam, por muito importante que elas sejam para ti.
Cada pessoa é uma pessoa e não te podes deixar sentir culpado por seres quem és, ou por teres causado esta ou aquela reacção.

Nunca se deixem convencer (nem ajam como tal) de que quem são é um problema... porque se não o é para vocês, não o pode ser para niguém...

Beijos e Abraços!
Astro

Anonymous said...

Saudações
Descobri este Blog hoje mesmo que escrevo este post.
Vou ser o mais frontal possível - Não tenciono sair do armário. Perante mim aceitei logo pois estou perfeitamente seguro da minha homossexualidade.
Em relação à minha família, espero eternamente esconder-lhes a minha homossexualidade. A minha família é bastante conservadora, com um pensamento bastante fechado, e nunca aceitariam tal coisa, de modo que quero poupa-los a isso.
Em relação às outras pessoas que me rodeiam - amigos, colegas de trabalho, etc - também o irei fazer pelo menos enquanto não emigrar para um país onde a homossexualidade seja encarada como algo normal.
As pessoas ainda não perceberam que a homossexualidade não é uma escolha, é algo que os "portadores" não escolhem, está nos genes e, como tal, ninguém deve ser discriminado por isso. É uma escolha sim o facto de te assumires perante a sociedade, o que como já disse, não pretendo fazer.
Acreditem que se pudesse escolher, escolheria ser heterossexual como a maioria das pessoas.

Enfim, enquanto as coisas não mudam, assim terei que continuar: a enganar a mim próprio e aqueles que me rodeiam!

Cheers

Édipo said...

emanuel: Obrigado pela partilha. De facto das experiências que as pessoas relatam, há apenas uma conclusão: com o tempo torna-se mais fácil. E é isso que me dá força.
Por outro lado, não quero criar expectativas de que vai ser duro ou que não vão aceitar porque até posso ser surpreendido. Mas percebo. Mais vale esperar o pior e depois ser bom, que o contrário... A ver vamos! Abraço!

astroboy: Obrigado por deixares aqui a tua experiência! Fizeste-me rir, o que é bom, porque isto não pode ser visto como um drama mas como uma coisa normal. Se me permites, diria que no teu caso a passagem foi rápida demais. Apesar de cada pessoa viver as coisas de forma diferente das outras, memso assim parece-me que 1 ano é muito pouco.
Quanto às sugestões, concordo. Poderei ser surprendido mas como disse atrás, é mais fácil esperar que não o vou ser...
E sim... de facto (e pegando já no 3º comentário), o problema em muitos casos está nas outras pessoas e não em nós. Se elas não aceitam (até porque às vezes nem sequer têm capacidade para por-se no lugar dos outros e ver numa perspectiva diferente da delas), o problema é delas! Claro que isso não significa que não possamos tentar mudar a perspectiva delas, mas para isso é preciso que estejam dispostas a mudar...
Beijos e abraços!

anónimo: Bem-vindo e obrigado por teres sido tão eloquente a mostrar uma perspectiva bem diferente das anteriores.
De facto estás no teu direito de pensar assim mas não esqueças que a primeira fase é aceitarmos o que somos e não podes como dizes "enganar a ti próprio". Não sou utópico em pensar que o mundo é perfeito e que casos como o teu já não fazem sentido nos dias de hoje... infelizmente ainda existem muitos e não têm nada a ver com a velha questão rural vs. urbano (já vi muitos avós do campo a aceitarem melhor que os filhos da cidade!).
No entanto uma coisa gostava que percebesses. O facto de esconder para sempre o que somos não ajuda em nada à evolução da sociedade. Pode criar-nos problemas, sermos espancados, maltratados, excluidos ou seja o que for... mas uma coisa boa existe. Facilita a vida das gerações que venham depois de nós. E só por isso já valeria a pena saires do armário.
Obrigado e um grande abraço!
(ps- volta mais vezes!)

Anonymous said...

Olá, sou eu outra vez...

"a primeira fase é aceitarmos o que somos e não podes como dizes "enganar a ti próprio"."

Bem, talvez não tenha escolhido bem a frase. Trata-se mais de enganar os outros. A mim próprio não me engano, pois como já referi, já assumi a minha homossexualidade perante mim mesmo.

"infelizmente ainda existem muitos e não têm nada a ver com a velha questão rural vs. urbano"

Isso não sei... Mas sei que no rural a homossexualidade não é nada bem vista. Por experiência própria.

"O facto de esconder para sempre o que somos não ajuda em nada à evolução da sociedade."

Só quero esconder isso da minha família e daqueles que me são mais próximos. O facto que querer emigrar tem a ver com isso mesmo. Se for viver para um local onde a homossexualidade seja aceite como algo normal, ai não terei qualquer problema em assumir o que sou.

Ouvir a minha mãe a falar do Manuel Luis Goucha: "Olha, aquele já se assumiu, agora vive com um homem... Não têm vergonha nenhuma!", não é uma coisa muito agradável, e leva-me a tomar esta decisão. Penso que ela não deixaria de gostar de mim pelo que sou, mas eu próprio teria vergonha de lhe aparecer à frente por ser de uma cultura que ela condena! Não sei se me faço entender...

Sabes, é bom falar destas coisas, desabafar... Nunca contei a ninguém que sou homossexual.

"Obrigado e um grande abraço!"
Eu é que agradeço, abraço.

"(ps- volta mais vezes!)"
I will...

Tix@ said...

Olá Amigos!!
O assunto e serio mas fico feliz que alguns de voces o levem com algum humor.. ja me ri!

Sabem que nao estou na vossa situação por isso nao vou dizer que percebo.. mas imagino o que deve ser! Força a todos!

Fica aqui uma maneira de contar aos pais!!

LINDO

http://www.youtube.com/watch?v=w1WEHx7l0XA


http://www.youtube.com/watch?v=w1WEHx7l0XA

Édipo said...

Anónimo: Se não te enganas a ti próprio, isso já é bastante bom!
Quanto a mudares de país... é mesmo necessário? Há cidades em Portugal onde podes viver sem te preocupares no que os outros vão pensar.
E nos outros países, às vezes a aceitação é só aparente. Dou-te o exemplo de Inglaterra e EUA... já lá vivi e sei que não aceitam tanto como parece. Bom... mas isso também percebes pelas notícias. Basta ver que antes na California era permitido o casamento gay e agora já conseguiram alterar essa lei (os grupos religiosos e consevadores)...
Sinceramente, acho que o aceitarem ou não não depende só dos sítios ou cidades... depende também de nós!
Quanto ao Goucha, casos como esse só causam mais mal que bem à nossa sociedade, porque as pessoas vão achar que todos os gays são assim... espanpanantes, fantasiosos, espalhafatosos, etc etc... no fundo, umas grandes bichas!
Quanto ao desabafar, podes fazê-lo por aqui. Este blog também pretende prestar um serviço público (de diferentes formas e pontos de vista...) e isso é uma forma de o fazer!
abraço!

tix@: mesmo não estando na nossa situação, penso que não será muito dificil imaginar o que é.
Tens um bom exemplo de como os heteros podem por-se no nosso lugar e saber pensar no post "women watching gay porn". ;-)
Prometo que depois vou ver o link que puseste aqui. ;-)
beijos

Felisberto said...

Adoro estas trocas tão saudáveis de experiências de vida e perspectivas...

Anónimo:
Sabes, tenho exactamente o teu ponto de vista no que diz respeito à questão dos meus pais saberem e se eu pudesse optar era hetero pois era muito mais feliz em muitos sentidos e as coisas teriam sido bem mais simples. Sou feliz como sou, mas foi algo muito trabalhoso e quase doentio até chegar a esta fase.
Como disse os meus pais descobriram por acaso e foi muito custoso para ambas as partes, hj não tenho que lhes mentir, o que pessoalmente me alivia imenso.
Mas conheço muita gente que está no teu papel...levam vidas duplas, pk tipo, eu compreendo, mais importante do que a minha sexualidade é o amor da minha familia, isso é impagável. E *às vezes é preferível esconder, afinal esta verdade não lhes vai ser útil em nada.
Aos amigos, pessoalmente foi importante, quando ñ tens ninguém para falar sobre isto é sufocante e quanto mais calcas e recalcas pior te faz à saúde mental...e tb já lidei com um caso grave deste género.Nisso tem cuidado, ñ recalques demais...pode ser perigoso para ti e para a tua felicidade.
Acima de tudo que esta opção de seres o mais sigiloso possivel ñ te impossibilite de amar.

Quanto à questão da sociedade e ás mudanças da mesma despertada pelo meu prezado édipo, tenho que discordar, para mim os maiores exemplos de homossexuais e de comportamento são o diogo infante e o ricky martin (riam-se à vontade), mas gosto da postura assumida e sem dizerem uma palavra explicita sobre o assunto. Acho que a sociedade os respeita mais...pode ser só uma ideia minha....
No mais anónimo, no que precisares desabafar, falar tás á vontade...já passei por isso, todos já passámos, e...no que te puder apoiar...
Olha sobre o emigrar, escusas ir pa mto longe lol, Barcelona é um mundo!!!!!muito à frente!

abração pessoal

Tix@ said...

Como disse édipo.. imagino bem. Até pk tenho vários amigos a passar pelas diferentes fases do texto!
Cada um tem diferentes maneiras e varios timings para o fazer.. ha mesmo quem nunca o faça!
Talvez nao haja uma maneira correcta de o fazer.. É so ter de viver a vida e tentar ser feliz... quem nao gosta que coma menos!

o link que deixei é uma brincadeira.. mas esta uma delicia o video!

Beijo muito grande para todos os assumidos ou nao!

Anonymous said...

hello again...
Bem, o facto de querer emigrar no tem só a ver com o facto de ser homossexual. Obviamente que quero também conhecer novas gentes, novas culturas. Sou originário de uma pequena aldeia onde as pessoas passam de geração em geração o modelo do que é ser normal e não estão dispostos a perceber outros pontos de vista. Todas as pessoas devem ter o American Dream - nascer, crescer, formar-se, arranjar um bom emprego, casar, ter filhos - todas devem ser religiosas e essas coisas. Eu, pura e simplesmente, não me identifico com a maioria dessas coisas, e por esse motivo, quero sair deste sitio que, cada vez mais, me sufoca!
Acabei de me formar e deve ir para a capital trabalhar durante algum tempo até ter experiência necessária para conseguir arranjar algo estável noutro pais onde, como já referi, a sociedade seja mais liberal.
Barcelona... Sim, é um dos sítios eleitos, e ainda por cima há montes de Bears :)

Edipo:
Acho que no Reino Unido a homossexualidade é encarada de uma forma mais liberal, ou pelo menos em Londres, ou estarei em erro? Nos EUA depende das zonas, mas acho que em San Francisco é na boa.

Emanuel:
Levar vidas duplas? Isso nem pensar! Não tenciono viver com um homem, e seria incapaz de andar a enganar uma rapariga só para parecer mais macho, pois estou seguro daquilo que sou! Se viveres sozinho podes ter as relações que quiseres e é mais fácil de esconder.
Em relação ás bixas, simplesmente não suporto, e penso que essa cultura dificulta ainda mais, a aceitação da homossexualidade por parte da sociedade. Se eu que sou homossexual não suporto, imaginem os hetero...

abraço

ThesagiTus said...

bom estava a ver se me safava do coment, mas nao! vou ser breve e em poucas palavras e aproveitando a dica da tix@ achei a resposta certa para o sr Édipo, "passo a pub", mas é suficiente, ahah

http://www.youtube.com/watch?v=DndSS4uQBAI

ps: só mais uma coisa, aki para o sr anónimo: concordo inteiramente com o ultimo parágrafo, ele ah por ai cada "coisa imbearmica", hugzz

VickVapoRub said...

Saí do armário para a minha família (pais e irmã) há uns 15 anos. Não foi um "coming out" como se vê nos filmes americanos mas, posto entre a espada e a parede, entre mentir e dizer a verdade, preferi dizer a verdade. Os tempos seguintes foram complicados, mas não me arrependo nem um bocadinho. Os pais podem dizer muito disparate no momento, mas depois não têm outro remédio que não seja aceitar. E "casar e namorar" deixam de ser assunto de conversa. É um descanso.
Já vivi fora, em alguns sítios que o anónimo chama "mais liberais" e deixe-me dizer-lhe que, se assim o são (por vezes nem o são, mas enfim), é porque há uns anos atrás alguém teve a iniciativa de se assumir e berrar e fazer-se notar.
Esta perspectiva muito campónia de "ficar quietinho à espera que passe" não adianta nada. Caro anónimo: ninguém o vai aceitar mais ou menos por usar plumas ou botas Timberland e camisa ao xadrez. Quem discrimina gays, continuará a fazê-lo, que seja "muito macho" ou uma bichona louca.
Diz que gosta de bears: já foi a algum "bear bar" fora de Portugal? Então vá e depois diga-me. A postura labrega e acanhada dos "velhinhos-feios-e-tristes-que-se-dizem-bears" que frequentam o Max não são exemplo para nenhum gay.
Voltando a mim: neste momento vivo com o meu gajo, com a família a saber, e a minha mãe a oferecer-se para nos passar a roupa a ferro. Se eu vos contasse os disparates que a minha mãe me disse quando eu lhe confirmei que "sim, sou maricas"... e depois, claro aceitou.

Acima de tudo trata-se de uma questão de honestidade para connosco e com os outros, as pessoas de que gostamos, sejam família ou amigos.

Eu, ao contrário do que aqui li, não queria ser hetero. Estou muito bem assim. Não me imagino a morar com uma gaja (ainda que tenha amigas que adoro) e crianças então, nem pensar. Mal tenho pachorra para cuidar dos meus gatos, quanto mais de crianças.
Ah! E para que não fiquem a imaginar: sou um gay com barba, que não arranja as sobrancelhas nem compra roupa na Bershka. Mas não escondo (a quem interessar) que sou gay. É um nível de liberdade que me custou muito a conquistar para abdicar dele assim sem mais.

Anonymous said...

Afinal vim cá para deixar um desafio ao Édipo: Podes encontrá-lo no meu blog.

Para responder a este post, terei de ler tudo com atenção e pensar no que escrever.
Demora tempo...

Édipo said...

Ok. Vou responder ao teu desafio.
Mas também tenho de pensar no que escrever. ^_^
Leva o tempo que precisares. O que importa é que deixes o teu contributo aqui. ;-)
abraço!

Anonymous said...

Então aqui estou eu a responder... e não é simples.

A primeira fase é a mais importante porque é a que nos define perante nós próprios... e a que nos dá paz de alma.

Eu entrei nessa fase aos 31...
Antes do momento crítico, contar a alguém quer era gay seria a fim do mundo... algo impensável!

E tenho andado a refiná-la... pois o processo de auto-conhecimento e contínuo e gradual... o que influencia as restantes fases.

Quanto à segunda fase (e terceira fase é igual: apenas se alarga o âmbito a pessoas desconhecidas), sair do armário, tem sido selectiva: apenas digo a pessoas com quem tenho confiança e com quem quero ser honesto, porque estou farto de fingir.
Depois há uns que desconfiam e outros que não... mas isso é azar deles/delas... Mas na boa da verdade é que só disse a um amigo hetero: o resto foram amigos gays, amigas e a um gajo que me parecia andar a rondar-me e para stalkers já basto eu... :)

Será que é necessário dizer?
Não! Da mesma maneira eu não ando a dizer que sou canhoto, não preciso dizer que sou gay...
Quando me vêm usar a mão esquerda, topam logo...

Mas se não é necessário dizer, será que se vê?
Não...

Então... é preciso dizer?
Talvez... :?

E a toda a gente? Aos pais?
Se toda a gente e os pais falarem abertamente de sexo... porque não?
Eu não me lembro deles contarem o que faziam na cama, por isso respeito a sua vontade... ;)

Custa ter de evitar, dissimular, disfarçar conversas que impliquem a divulgação da sua orientação sexual?

Sim, mas eu também tenho de evitar exprimir a minha opinião sobre outros assuntos, sob pena de ser inconveniente.

E porque não uma segunda fase pública?
Já pensei nisso e não me assusta tanto assim, porque a primeira fase está consolidada: sou gay e não tenho de morrer por isso (felizmente em Portugal).
Simplesmente quero desenvolver um projecto profissional que me obriga a não dizer que sou gay.
E infelizmente não temos nenhum movimento civil gay de jeito...

Actualmente eu tento passar à terceira fase, sem ter de passar pela segunda, ou seja, viver o mais honestamente comigo próprio na tentativa que as pessoas me respeitem e aceitem-me como sou... Isso não quer dizer que use plumas: apenas faço as coisas que me apetecem... uns podem achar estranho (queer) outros nem tanto...
Mas a verdade é que eu continuo a ser o mesmo.

Aqui está a minha resposta, Édipo!

Anonymous said...

Olá a todos:


Bem, escrevo-vos como resposta ao post…

Antes de mais, só para dizer que estou na fase 2… Podia ser pior…

Contudo, o “coming out” depende muito das circunstâncias. Depende do local (neste caso, Portugal) e do momento. Quanto ao país, nada a fazer (a menos que se queira emigrar)… O problema, na minha visão, é o “timing”.

Ora, pessoalmente, prefiro ter alguma liberdade financeira e independência antes. Só então, passo à fase 3. Quando as possibilidades de me fazerem mal forem mais reduzidas (nunca serão nulas… Posso sempre levar um balázio na testa…).

Esta é a minha decisão. Não sei se é a mais acertada, mas é aquilo que quero fazer.

Quanto à questão do assumir em si, tenho a dizer algumas coisas.
A primeira prende-se com a quase obrigação de “nos virmos”… LOL. Uma espécie de orgasmo de afirmação… LOL (Ok, má piada…) Acho que, tal como as sufragistas (também elas bem ridicularizadas no seu tempo e em alguns meios ainda hoje), temos que lutar pela nossa dignidade. A vida é agora. Não é depois de morrermos que vamos começar a viver. Essa ideia do “ao menos deixamos um mundo melhor para os que vierem” é verdade. 100% de apoio. Contudo, sendo eu existencialista e adepto do viver o presente também digo que não fazer nada agora é irmo-nos matando aos poucos.

Depois, claro que há a família, os amigos, etc. Mas sobretudo a família. Bem, se eles não gostarem, problema deles (não é bem assim, mas, no fundo, acaba por resumir-se a isso). É a NOSSA vida. E será que nós só somos a nossa orientação? Muitas das vezes o preconceito perturba os afectos. Mas isso é um problema dos outros. Nós limitamo-nos a fazer o que está certo.

Por último, uma nota: não sou efeminado, nem nada dessas “bichices”. Agora, não me peçam de ir nessa do “ai, não sou homofóbico, mas as bichas são insuportáveis e só nos dão má imagem!”. Amigos, todos têm direito à vida. “Elas” são como as tias, os betos, os dreads, os punks, os bears (sim, os bears…): uns tolos que andam por aí e que, apesar de tudo, querem é ser felizes (e, na maioria dos casos, não fazem a mínima ideia de como conseguirem). E nós, como grupo discriminado, devíamos ser os primeiros a defender essas ultra-minorias (minorias dentro de um grupo minoritário).

E, já agora, foi-me sugerido pelo meu psicoterapeuta (sim, uma pessoa não é de ferro…) ir a um bar gay… Nunca fui (tenho 23 anos e, sim, shame on me!). Alguma sugestão para um iniciante? Ah! Não pertenço a nenhum dos tipos de gays descritos frequentemente (dread, efeminado, etc). Há algum bar indicado? Obrigado!


(Desculpem o testamento… E escrevi isto já cansado… Se tiver saído uma me*da, peço desculpa…)

Anonymous said...

No último parágrafo: dread = bear


sorry...

Anonymous said...

Isto de se ser gay é complicado!

Mesmo... Há dias em que penso, é hoje, vai ter mesmo de ser hoje, não pode passar...Outros dias deparo-me com uma total duvida e uma vontade tremenda não, de fechar-me dentro do armário, mas de enfiar dentro da madeira, com medo do mundo, das reacções, e sobretudo de um futuro que não sei como será... Aqui, ou acolá? A fugir ou a assumir? A gritar ou a esconder?

Eu sempre me achei um indeciso e inconstante, mas nos últimos tempos, essas coisas têm vindo ainda mais ao de cima, sobretudo devido ao facto de não só ter de escolher o que fazer pessoalmente da minha vida, mas também que futuro profissional escolher... Que quero ser? Rico? Feliz? Ou talvez tudo...Ou talvez nada! Amor e uma cabana ou um palácio gigante? E o que me satisfará realmente?

Desculpem este desabafo, mas as duvidas perseguem-me e ponho-me a pensar que vida escolher...

Mas em relação aos armários... Eu tenho a porta meio descoberta, pelo menos para algumas pessoas, sobretudo aquelas de quem mais gosto, exceptuando uma ou outra... E o que sinto é: Amam-me, mas custa-lhes!!

E penso, estarei eu a ser responsável por algum desgost? Devo eu fazê-los sofrer e seguir em frente ou ser um pacato assexuado que fará tudo para não magoar os seus proximos, reprimindo a sua sexualidade e até a sua felicidade?...

A minha mãe diz-me sempre: "Vai para onde ninguém te conheça!"... Mas não é lá que estão as pessoas que me fazem felizes, e por outro lado, ser quem sou cá, é dar-lhes um desgosto...

Eis a persistente duvida...

-Mas não há necessidade de eu ter um rótulo a dizer "GAY À VISTA!"...

É possivel com a pacatez, construir uma vida feliz que não perturbe os demais?
Qual a formula da felicidade?

Será um gay menos feliz que os demais? Será um reprimido?
Anseio um não.....


João

Anonymous said...

Penso que cada um é livre de escolher o caminho que quer seguir. Se a família é conservadora e os amigos revelam traços anti-gay, julgo que o melhor será omitir. Existe e existirá o eterno problema dos que "revelaram ao mundo" que são gays, que se acham o máximo por o terem feito e não aceitam os que não querem/podem seguir por esse caminho. Penso que desde que as pessoas saibam o que são, é suficiente. Afinal não é por não revelar que sou gay que sou mais ou menos sério que os outros, na vida em geral e nas relações... Sinceramente penso que a relação com a família iria ser muito diferente, talvez uma parte me surpreendesse, mas assim não existem partes insatisfeitas.

Macaquinha said...

Oi, Oi!
Primeiro dizer que encontrei este blog atraves de um outro cujo link me foi passado por uma amiga que (remetendo ao titulo dester post) esta a ter probleminhas em sair do armario, e tal como tu ainda nao encontrou a forma de contar aos pais embora me pareca que eles saibam, porque tal como disseste eles nao sao burros.
Bem, mas falando de mim: Eu nao posso dizer que tenha tido propriamente problemas em contar, alias eu sou uma "desbocada" e um dia, talvez com os meus 15 cheguei a casa e disse
- Mae, eu gosto de gajas.
Ela lancou-me aquele olhar a WTF e eu continuei:
- Gosto de mulheres, sou lesbica. Gosto de as beijar e abracar e mais outras coisas.
Ai, claro parei de falar, achei melhor calar-me porque ela ja tava com aqueles olhinhos de "por favor nao me contes mais pormenores sordidos". E pronto.
Acho que foi a primeira pessoa a saber. Apartir dai foi contar a toda a gente, ate mesmo aqueles "cromangnons" que se faziam ao bife. Sempre achei que as pessoas que gostam de mim me aceitariam tendo a preferencia sexual que tivesse.
E na realidade eu gosto (sempre gostei) de chocar as pessoas e por isso tomei tudo de uma forma muito natural tornando tudo muito mais facil e aceitando as possiveis consequencias que este facto poderia ter na minha vida sem medos.
Actualmente tenho quase 27 aninhos (faco segunda feira XD) e, na realidade sou bissexual, mas achei que nao precisava de lhe dizer falar sobre rapazes, ate porque isso ela ja tinha como obvio. Apesar do choque inicial ela nunca me olhou com maus olhos, alias acho ate que tive muita sorte porque nenhuma das pessoas que me eram (e sao) realmente importantes na altura teve uma reaccao menos positiva sobre o assunto.

O meu conselho: primeiro tu. Ou seja temos que ser um pouco "egoistas" perante os outros e "abrir a boca". Quanto antes melhor, evitando assim correr o risco do "boato" se espalhar e ai sim, sera mesmo nasty.
Fica bem.
Ps: Ja li quase todo o blog e gosto muito ^^